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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cruzamento

Levantei de novo atrasado.Era mais um dia na minha vida, apenas mais um dia. Escovei os dentes ao mesmo tempo em que me vestia. Sentia-me estranho. Eu era estranho. Desci correndo a escadaria do prédio. Não sei porque, me nego a usar o elevador, é surreal como as pessoas se comportam naquele lugar, a forma que se cumprimentam, como se realmente se importassem com o que a outra pessoa pensa. Eram sete andares, fazia aquele caminho todos os dias. Rotina.

Eram as mesmas pessoas na calçada, elas sempre estariam atrasadas também? Não há quem se importasse com isso, tirando elas, olhando para seus pés ou joelhos, nunca nos outros olhos. Eu sentia falta de olhos. Olhei de relance que o farol estava verde. Minha hora de atravessar. No meio do caminho senti que tudo ao meu redor me observava, tentava me dilacerar por dentro sem ao menos me tocar antes. Em um ato estúpido ergui a cabeça, vi apenas vultos, negros, pardos, brancos, não conseguia diferenciar, nem ao menos enxergar o rosto de alguém, de nada. Sabia que eles estavam ali, era um mar de rostos. Mas mesmo assim a solidão me dominava, como se eu estivesse preso dentro de um quarto escuro, que nunca foi aberto. Preso dentro de mim mesmo.

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